Linha do Tua e Sabor

História da Linha do Tua: Caminho de Ferro Foz-Tua-Mirandela-Bragança

1º TROÇO - FOZ-TUA-MIRANDELA

  • Ano de 1878 - Foram apresentados dois projectos para a construção de uma linha que ligasse Mirandela e Bragança com o caminho de ferro do Douro:
    Um apresentado pelo engenheiro militar João José Pereira Dias e pelo condutor Bernabé Roxo, sob a direcção do engenheiro Sousa Brandão, pela margem direita do Rio Tua;
    Outro da autoria do engenheiro António Xavier de Almeida Pinheiro, pela margem esquerda do Rio Tua.
  • 22 de Junho de 1882 - A Câmara Municipal de Mirandela deliberou representar à Câmara dos Pares pedindo a aprovação do projecto de lei que concedia a subvenção de 135 contos de réis para garantia do juro de 5% à empresa que viesse a construir a linha férrea Foz-Tua a Mirandela. Várias individualidades importantes do Porto, nomeadamente Clemente Meneres, coadjuvaram os esforços e as petições da câmara.
  • 11 de Janeiro de 1883 - A Câmara Municipal de Mirandela representou a El-Rei, pedindo a construção da linha férrea até Mirandela e dirigiu-se à Associação Comercial do Porto solicitando os seus bons ofícios para apoio da pretensão.
  • Dezembro de 1883 - O Governo adjudicou ao Conde da Foz a construção da linh a férrea de Foz-Tua a Mirandela. Mais tarde, trespassou o contrato de construção à Companhia Nacional de Caminhos de Ferro, cujos trabalhos foram dirigidos pelo engenheiro Dinis da Mota.
  • 26 de Maio de 1884 - Essa adjudicação foi confirmada por um decreto do Governo.
  • 30 de Junho de 1884 - Assinatura do contrato definitivo.
  • 16 de Outubro de 1884 - Inauguração dos trabalhos em Mirandela.
  • 27 de Setembro de 1887 - Abertura solene da linha ao público, com 54 kms de distância e várias obras de arte.
  • 29 de Setembro de 1887 - Inauguração da linha com a presença de El-Rei Dom Luís, da rainha D. Maria Pia, de vários ministros e convidados, salientando-se o artista Rafael Bordalo Pinheiro. A companhia construtora ofereceu um lauto jantar com duzentos talheres no barração do cais das mercadorias, pintado por Manini e decorado por Marques da Silva.
    Na mesa real tomaram lugar o Visconde das Arcas, governador civil de Bragança, Bispo da Diocese, General Malaquias de Lemos, Presidente da Câmara Municipal de Mirandela e Visconde de Moreira de Rei, etc.
    As locomotivas, que tinham os nomes de Vila Real e Mirandela, foram benzidas pelo Bispo de Bragança, que foi acolitado por 20 eclesiásticos.
  • 01 de Outubro de 1887 - O Diário do Governo dá conta do acto de inauguração.

2º TROÇO - MIRANDELA-BRAGANÇA

  • 20 de Julho de 1903 - Graças ao empenho do Conselheiro Abílio Beça, que foi deputado por Bragança e Governador Civil de Bragança, o governo resolve pôr em arre matação o prolongamento da linha férrea até Bragança, tendo-se iniciado os trabalhos após decisão da Câmara Municipal de Bragança.
    Estiveram presentes ness a reunião:
    - Vice-Presidente da CM de Bragança, Sebastião dos Reis Macias;
    - Secretário da câmara;
    - Governador Civil de Bragança, Abílio Augusto de Madureira Beça;
    - Representante do Governo, engenheiro-chefe da fiscalização da linha Foz-Tua-Bragança , Afonso Pereira Cabral;
    - Representante da Companhia Nacional de Caminhos de Ferro, inspector da linha férrea de Foz-Tua a Mirandela, Simão Marques Pinheiro;
    - Engenheiro director d a construção do caminho de ferro de Mirandela a Bragança, Manuel Francisco da Costa Serrão;
    - Empreiteiro geral da construção da linha férrea de Mirandela a Bragança, João Lopes da Cruz;
    - Bispo de Bragança, D. José Alves Mariz.
    Compareceram também outras classes sociais da área comercial, industrial e artística.
    As pessoas mais directamente ligadas à construção da linha férrea de Mirandela a Bragança tiveram um destino infeliz. O Conselheiro Abílio Beça morreu sob a s rodas de um vagão na estação de Rossas quando tentou subir para o comboio em andamento. O empreiteiro Lopes da Cruz faliu sem ter chegado ao final da construção e o engenheiro Costa Serrão não conseguiu, por isso, satisfazer os seus débitos.
  • Junho de 1905 – rea tamento das obras para conclusão do troço Mirandela-Bragança.
  • 2 de Agosto de 1905 – abertura até ao Romeu.
  • 15 de Outubro de 1905 – Chegada a Macedo de Cavaleiros.
  • 18 de Dezembro de 1905 – a linha abre-se até Sendas.
  • 14 de Agosto de 1906 – chegada a Rossas.
  • 1 de Dezembro de 1906 – finalmente está concluída a obra até Bragança.
  • 1910 – O Conselheiro Abílio Beça morre num incidente na Estação de Salsas, atropelado pelo comboio. O empreiteiro João da Cruz faliu por causa da linha.
  • Década de 1940 - A Linha do Tua passa para a CP.
  • Década de 1980 – desapareceram as locomotivas a vapor.
  • 13 de Abril de 1984 – Assinatura e ratificação do Protocolo de desactivação da Linha do Sabor, Pocinho-Duas Igrejas.
  • 13 de Abril de 1984 – Assinatura e ratificação do Protocolo de desactivação da Linha do Tua, Foz-Tua-Bragança.
  • 15 de Dezembro de 1991 – Encerramento do troço Mirandela-Bragança.
    A Noite do Roubo (ver vídeos) - O troço Carvalhais-Bragança encontra-se encerrado a todo o tráfego ferroviário desde 1992. Esta data está envolta em controvérsia, uma vez que em Dezembro de 1991 se encerrou o troço Mirandela-Macedo de Cavaleiros, deixando o troço até Bragança isolado da rede ferroviária nacional. Poucos dias depois, um descarrilamento em Sortes veio ditar o encerramento do troço Macedo de Cavaleiros-Bragança, de forma indeterminada, finalmente confirmada em 1992.
    A operação de encerramento definitivo do troço Mirandela-Bragança ocorreu durante a noite, sem aviso prévio, e simultaneamente em Bragança e Macedo de Cavaleiros. Foi registada a presença de forças policiais, tanto para evitar ao máximo o registo de imagens, como para afastar a população, que ao saber da operação acorreu às estações destas localidades. O material circulante estacionado nestas foi retirado não por via ferroviária, mas via rodoviária. Foi relatado nessa noite um súbito corte nas telecomunicações. Devido a estes acontecimentos, o evento é recordado como A Noite do Roubo. Assistiu, de braços cruzados, a população, o Presidente da Câmara e o Governador Civil do Distrito de Bragança
  • 28 de Julho de 1995 – Reabertura do troço Mirandela-Carvalhais com o modelo de Metropolitano de Superfície. As automotoras eram as Duro Dakovic, série 9500 e foram denominadas de Lisboa, Paris, Estrasburgo e Bruxelas. Esteve presente o 1º Ministro Cavaco Silva no acto de inauguração
  • 2001 – o clássico comboio formado por locomotiva Alsthom (da série 9020, com uma potência de 1000 cavalos) e carruagens "napolitanas" (construídas em Nápol es em 1931), foi substituído por uma automotora a diesel, mais leve e de exploração mais barata. O Metro de Mirandela (empresa municipal participada pela C.P., E.P.) passa a explorar toda a via, desde o Tua até Carvalhais. Mudança radical nos horários, e introdução, temporária, de autocarr os de substituição. Início das obras de reconversão da estação de Bragança.
  • 24 de Janeiro de 2004 – Inauguração da estação rodoviária de Bragança, no edifício da estação ferroviária e espaços adjacentes. Com a remodelação feita na estação, dá-me a sensação que se gastou fundos que bem aproveitados, dariam para pôr em funcionamento parte da linha para efeitos turísticos.
  • Abril de 2004 – o Conselho de Gerência da CP deliberou instaurar um inquérito pelo alegado roubo de 504 toneladas de carril num troço desactivado entre Carvalhais e Avantos; no entanto a em presa de Ovar, a O2, assevera ter actuado na mais perfeita legalidade.
  • Outubro de 2006 – é formado em Coimbra o Movimento Cívico pela Linha do Tua.
  • 12 de Fevereiro de 2007 – uma carruagem cai ao rio Tua ao quilómetro 6, vitimando três pessoas e ferindo m ais duas.
  • 22 de Agosto de 2008 – acidente a 1 km da estação da Brunheda (Carrazeda de Ansiães), que provocou mais um morto, 10 feridos graves e 15 ligeiros. Relatório aponta "defeitos grosseiros" na linha e a desadequação das automotoras do Metro de Mirandela, que fazem o transporte ao serviço da CP.
  • 14 de Novembro de 200 8 – Circulação condicionada, pelo menos, até Março de 2009. Os comboios não circularão até à estação do Tua, pelo menos, até Março do próximo ano, garante a secretária de Estado dos Transportes.
  • 7 de Janeiro de 2009 – Empresa de Ovar condenada a indemnizar Refer por retirada ilegal de carris e travessas. A empresa O2 - Tratamento e Limpezas Ambientais foi condenada, em processo cível no âmbito do caso "Carril Dourado", a pagar 105 mil euros de indemnização à Refer por furto de carris e travessas da Linha do Tua.
    De acordo com a sentença, em 17 de Abril de 2004 a empresa O2 levou para a sua sede 3.690 metros de caril, 5.275 travessas de madeira e diverso material de fixação de um troço desactivado da linha do Tua, em Barrical, Souselas (Salselas?), Macedo de Cavaleiros. Trata-se de um lanço da Linha do Tua entre Mirandela e Bragança, que encerrou à circulação em 1992.
  • 2009 – Está prevista a constiuição de Sociedades para transformar o troço da Linha do Tua em Ciclovias, à semelhança do que aconteceu em Carviçais (Moncorvo).
    Está prevista a construção da CRIB (Circular Regional Interna de Bragança), fazendo o aproveitamento do traçado da Linha do Tua. Esta pretensão está em projecto e devidamente publicitada pela autarquia bragançana.
  • 11 de Agosto de 2009 – Durante a madrugada, um lamentável incêndio, com causas ainda por apurar, devastou duas carruagens Napolitanas, e parte do armazém de mercadorias, na estação do Tua.
    As carruagens Napolitanas, construídas em 1931 nas Oficinas Meridionais Ferroviárias de Nápoles – de onde o seu ape lido – eram o estado da arte em matéria ferroviária à época, e assim perdurou durante décadas, por mérito próprio, e por comparação com escolhas desadequadas da parte da CP, que manteve um penoso anacronismo nas Vias Estreitas, com material circulante do princípio do século ou mais recente, mas todos com baixos níveis de performance e conforto.
    Estas carruagens serviram principalmente nas Linhas Porto à Póvoa e Famalicão, e do Tua, sendo que a última composição que marcou de forma oficial o fim da Linha de Guimarães como Via Estreita foi formada por algumas destas carruagens. Foram ainda do último material circulante que chegou à estação de Bragança, celebrizando-se nas imagens captadas pela RTP na Noite do Roubo, enquanto içadas pela calada da noite para camiões.
    f3@Gilberto_Santos.JPGMais uma parte do património dos Caminhos-de-Ferro Portugueses foi assim destruída, naquilo que é já uma imagem de anos de abandono do nosso património ferroviário e cultural, deixado em estações como a do Tua à mercê do tempo e do vandalismo, esperando como que a pedir desculpa por ainda existir a venda para a sucata ou par a o estrangeiro, onde voltam a brilhar em todo o seu esplendor.
    Que este fim imerecido alerte tanto a CP, como as gerações que guardam na memória este material, como aqueles que ainda o podem ver a trazer de novo vida e desenvolvimento às regiões, para a tragédia que está a acontecer por inércia e falta de sentido estratégico.
  • 14 de Novembro de 2009 – Centro Cultural de Mirandela. PARE, ESCUTE, OLHE, apresentado aos protagonistas do filme que, pela primeira vez, viram as suas estór ias reflectidas numa tela. Fernanda vive numa estação abandonada. Berta, utilizadora frequente do comboio, necessita do transporte para ir ao médico ou simplesmente comprar um litro de leite. Pedro Couteiro, activista, um acérrimo defensor dos rios. Jorge Laiginhas, escritor transmontano, conduz-nos às entranhas e beleza do vale. Abílio Ovilheiro, ex-ferroviário, vive numa estação activa, autêntico sabedor de notícias da região.
    Através do seu quotidiano, do acompanhamento das suas estórias de vida ao longo de dois anos e meio - PARE, ESCUTE, OLHE - é um documentário interventivo, que assume o ângulo do povo para traçar um retrato profundo de Trás-os-Montes.
  • 24 de Março de 2010 – Um conjunto de cidadãos que tem vindo a lutar pela preservação e classificação da Linha do Tua, assim como personalidades do meio cultural, artístico, académico, científico, ambientalista e político, vai entregar no IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico), o requerimento inicial com vista à abertura do processo de classificação da Linha Ferroviária do Tua como Património de Interesse Nacional, sustentado na Lei nº 107/2001de 8 de Setembro (Lei de Bases do Património Cultural).
    A Linha do Tua, via métrica com mais de 120 anos, implantada nas arribas do Vale do Tua, merece, segundo os requerentes, a classificação como Património de Interesse Nacional, não só pelo papel histórico que desempenhou e pela obra-prima de engenharia portuguesa que constitui, mas também, e ainda, como exemplar único do património ferroviário e industrial do nosso país. Os requerentes consideram ainda que este património tem elevado potencial para o desenvolvimento turístico para a região.
  • 8 de Abril de 2010 – PARE, ESCUTE, OLHE – O documentário estreou nos cinemas a 8 de Abril e cerca de três mil espectadores viram o filme nos cinemas Lusomundo Amoreiras, Parque Nascente, Cinema City Alvalade, e nas exibições descentralizadas em Torres Novas, Vila Real, Mirandela, Guarda, Faro, Tavira, Castelo Branco e Redondo.
    Após visionarem o documentário, são muitos os e-mails a questionar o que podem fazer, como podem intervir para a defesa do património do vale do Tua. Por esse motivo, em conjunto com a QUERCUS, MOVIMENTO CÍVICO PELA LINHA DO TUA, GEOTAS, COAGRET, e outros movimentos sociais, foi lançado um manifesto online pela preservação do vale do Tua (http://www.peticao.com.pt/vale-do-tua) e um “Apelo aos deputados”. Já foram enviadas mais de duzentas cartas.
    Assim, todos aqueles que vêm o documentário e se sentem indignados ou revoltados podem escrever aos deputados – representantes do povo – e manifestar o seu sentimento através do site:
    www.pareescuteolhe.com ou http://www.earth-condominium.com/cartabarragens/
    image005.jpgSINOPSE: Dezembro de 91. Uma decisão política encerra metade da centenária linha ferroviária do Tua, entre Bragança e Mirandela. Quinze anos depois, o apito do comboio apenas ecoa na memória dos transmontanos. A sentença amputou o rumo de desenvolvimento e acentuou as assimetrias entre o litoral e o interior de Portugal, tornando-o no país mais centralista da Europa Ocidental.
    Os velhos resistem nas aldeias quase desertificadas, sem crianças. A falta de emprego e vida na terra leva os jovens que restam a procurar oportunidades noutras fronteiras. Agora, o comboio que ainda serpenteia por entre fragas do idílico vale do Tua é ameaçado por uma barragem que inundará aquela que é considerada uma das três mais belas linhas ferroviárias da Europa.
    PARE, ESCUTE, OLHE é uma viagem por um Portugal profundo e esquecido, conduzida pela voz soberana de um povo inconformado, maior vítima de promessas incumpridas dos que juraram defender a terra. Esses partiram com o comboio, impunes. O povo ficou, isolado, no único distrito do país sem um único quilómetro de auto-estrada.
    FICHA TÉCNICA: Direcção Fotografia, Edição e Realização Jorge Pelicano | Assistente Realização Rosa Teixeira Da Silva | Pesquisa e Desenvolvimento Jorge Pelicano | Rosa Teixeira Da Silva Música Original Manuel Faria, Frankie Chavez, Francisco Faria Produção Costa do Castelo Filmes Produtor Paulo Trancoso Captação de Ambientes Filipe Tavares, Joaquim Pinto Mistura e Edição de Som João Ganho Arquivo Ferroviário Joaquim Mendes, Bob Docherty, Fernando Nunes, Marco Prata
    Co-Produção Sic Televisão Apoio Financeiro Fica
    Para mais informações, solicitação de entrevistas ou envio de fotografias, contactar:
    Rosa Silva | tel. 966230699 | e-mail: pare.escute.olhe@gmail.com